15.7.05

Texto 02: “Não há absolvição possível para sua história”.

Bom, escrevi isso. Vejam o que acham e comentem... muita doideira, hein?


Na obra “O Processo”, de Franz Kafka, o processo a que o Sr. K é submetido à sua revelia é tomado por nós todos como um processo jurídico. E para dar conta desse jurídico, dessa lei que é insondável mediante a racionalização, somos jogados junto com o nosso herói numa história que tange o delirante. O processo que o Sr. K sofre é situado em, talvez, algum ponto de sua história de vida, por motivos que são desconhecido por todos. E para este tipo de processo, conforme é atestado por personagens ao longo da história, não há absolvição possível. O Sr. K paga com sua vida o preço do seu processo, do seu processo que se confunde com sua vida. E é assim que percebemos que não há absolvição possível para nossa história pessoal.

Seria o Sr. K um Édipo à avessas? No afã de atingir sua “ungehoeur” (projeto de tudo saber), Édipo chega à sua própria condenação. O Sr. K morre tentando obter sua verdade, sua absolvição, ironicamente. A verdade não é alcançada no romance kafkiano, por não haver sentido possível para ela. A submissão às vicissitudes do processo de vida do herói é conseguida ao longo da história. Sr. K paga com sua morte o preço da sua vida. É o que Freud nos dizia ao afirmar que escolhemos os meios pelos quais morremos (e que se confunde com o sentido pelos quais vivemos)?

K é condenado de antemão, isso marca a diferença entre o herói romântico (?) e o trágico. Podemos ponderar corretamente que há um deslizamento da questão da condenação se pensarmos que ela está oferecida em Édipo Rei no momento primeiro em que Édipo mata seu pai, Laio, rei de Tebas, mesmo sem o saber. Mas no romance sofocleano, a verdade é obtida mediante a uma busca. Já na história do Sr. K, embora ela se passe em torno dessa busca da verdade, do porquê do processo, o desfecho é diferente.

No exemplo d’O Processo, percebemos que a sua fantasia, o mundo imaginativo criado pelo autor comporta além do recalcado, além dos crimes humanos possíveis (? ato falho) – o parricídio e o incesto – um quê de real, um ponto insondável. Numa analogia com o sonho, seria esse non sense, esse limite do saber humano sobre seu “processo” o equivalente ao umbigo dos sonhos freudiano. É o trágico em essência: paga-se pelo que não se sabe e nem nunca se saberá (já que há aquilo “que não tem sentido, (nem nunca terá)” – o que será que será?).

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