Diante do que vimos ontem na Câmara de Deputados, pudemos constatar muitas, mas muitas coisas a cerca do Brasil: de como se exerce o poder da "multidão"; de como o poder se organiza e se sustenta – como "poder surdo" e avalizado pela sociedade, sempre contra a violência; de como a política é irônica, ao ter na oposição um dos fundadores do partido da situação... ou ainda podemos pensar, em um nível macro, como esse ocorrido reflete bem o posicionamento do sujeito contemporâneo frente à lei (Chegando à precisa frase de Renan Calheiros: "isso é um movimento sem-lei").
Na política demagógica de que democracia é governo para o povo, pelo povo e etc, se esquece que a repressão policial é medida democrática, justa e juridicamente constituída frente a ações criminosas como a de ontem, dia 6 de junho.
Depois reclamam quando o deputado baiano José Aleluia (PFL-BA) sobe à plenária e ataca francamente o presidente, acusando-o de "frouxo". É essa a lei de hoje: frouxa, onde o "pai" da nação não mais age como tal.
Isso se reflete na afirmação de Lula: "Eu estou preocupado com a rodovia transnordestina. Se alguém está preocupado com outra coisa, que fique preocupado com outra coisa".
Ele disse isso quando perguntado sobre o ocorrido na Câmara (talvez nem soubesse do ocorrido, ele nunca sabe de nada mesmo...). Depois, mandou carta e ligou para Aldo Rebelo para se solidarizar... interessante, porque na hora nem Aldo nem Lula estavam preocupados com os 20* agentes desarmados na frente da Câmara contra os 500 "loucos". Talvez porque não havia um filho deles lá.
Triste isso, pois confirma o que disse acima: o político não se sente mais, não assume sua função de pai frente seus filhos, os brasileiros. Ao permitir a livre expressão de Aleluia (que extrapola os seus direitos), Lula, avalisa a opinião do deputado: de que Lula é sim um frouxo ao se deixar ser chamado assim. Há que se ter limites para a livre expressão, e o governo Lula, "deslimitarizado" (com trocadilho, por favor) não percebe que não posicionar-se é posicionar-se, e com isso reforça a idéia de que o pai está morto.
Agora, não posso deixar de expressar uma questão bem pontual, já que não vi até agora em nenhum outro meio de informação:
Por que o sr. Aldo Rebelo não aprovou a entrada da polícia militar para resolver a situação? Não era essa uma situação de polícia? Eles se reuniram para discutir a revolta lá dentro, enquanto lá fora alguns poucos estavam apanhando para tentar, infrutiferamente, impedir 500 de entrar.
É muito bonito dizer que todos estão presos (e ser aplaudido por isso!), mas quem os prenderá? Quem tem preparo para fazer isso? Os poucos e mirrados policiais desarticulados e desarmados (embora bem intencionados) do poder legislativo? Não, com certeza não. Os policiais militares? Não... eles só entrariam lá sob ordem de Aldo. E ele não teve coragem o suficiente para tomar essa atitude. Para ele fazer isso, teria que haver um retorno da opinião pública favorável antes. Ou seja: Aldo Rebelo, assim como a maioria dentro da Câmara, estão mais preocupados com suas imagens de políticos respeitáveis e respeitadores do que com a efetiva segurança dos servidores e da democracia brasileira.
Em suma, proponho aqui uma outra visada sobre o assunto: em como a demagogia da política é capaz de produzir efeitos tão ou mais nefastos do que os produzidos por uma multidão ensandecida, irracional (Le Bon, Le Bon!!!).
Por outro lado, temos uma PM impossibilitada de agir, pois aquele que detém poder de decisão sobre tal situação NÃO TEM, DEFINITIVAMENTE, PREPARO PARA TOMAR TAIS DECISÕES, a saber, de evitar e/ou controlar confrontamento físico. Prova disso foi a posição dos deputados em apurar suas retóricas enquanto lá fora estavam brasileiros levando pauladas, socos, pontapés e pedradas.
Pois então... eu estou preocupado com outra coisa. Sr. Aldo Rabelo, sua posição demagógica frente a essa questão foi pífia. E a responsabilidade sobre a vida daquela minoria frente à multidão é sua.
Agora me respondam: quem prendeu, efetivamente os revoltosos? A polícia legislativa? NÃO, foi a PM, como podemos ver pelas imagens televisivas. A presidência da Câmara adiou a decisão e colocou a vida de centenas em perigo, além de gerar grande constrangimento para a segurança da casa e para o povo brasileiro, atacado no coração da sua democracia....
Finalmente, algumas frases, os responsáveis por elas e minhas considerações:
* Arlindo Chináglia (PT-SP): "Não podemos ideologizar essa disputa, nem deixar que a solução seja policial. Aqui é o nosso lugar, dos deputados, e não de polícia".
C: Pois então, gostaria de perguntar ao deputado porque ele não estava lá fora, defendendo sua opinião junto aos revoltosos, mas antes deixando a polícia desarmada apanhar...* Inocêncio Oliveira (PL-PE) "Não foi necessária a entrada do Exército, mas a melhor resposta que podemos dar é a cumprirmos nosso dever e continuar os trabalhos".
C: Não seria necessário? Fazer isso, deputado, é ignorar a realidade objetiva do povo, mais ocupado em suas verborragias, e deixando os "problemas sociais" de lado, fazendo ouvidos de mercador.* José Carlos Aleluia (PFL-BA) "É um ato de vandalismo e deve ser tratado com a lei, sem revidar a violência com a violência".
C: Gostaria de saber o porquê da ojeriza a “medidas violentas”. Muito provavelmente a posição de não-repressão pode ter sido mais violenta do que se houvesse ao menos um posicionamento mais firme, autoritário.Por isso defendo que a autoridade é mal vista hoje em dia. Medo de um retorno às trevas do militarismo? Ora, por favor!! O pacifismo que o homem contemporâneo está se impondo se mostrará, ao longo dos tempos, como uma das principais violências do mundo hodierno.
Não defendo a opressão pura e gratuita ao povo e suas manifestações, mas antes a justa medida que permite a existência da humanidade: a Lei.
Debater este tema, inclusive, é mais importante que expôr as imagens e discutir quem tem ou não culpa neste episódio. Isso porque pode nos oferecer alternativas ideológicas e defletir o comportamento social noutra direção.
* Segundo informações, eram 200 os seguranças da Câmara, mas vejas as imagens do confronto e diga quantos haviam lá fora, no face-to-face...
Algumas informações oficiais para você elaborar a sua própria opinião:
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